quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desapegar-se

Arrumar o quarto, limpar o armário, esvaziar as gavetas e se livrar de tudo aquilo que não serve mais. A gente costuma guardar tralhas, coisas velhas e inúteis, que apenas constituem um peso material e um escombro emocional. É onde erramos. Armazenamos bilhetes, salvamos mensagens, mantemos históricos de conversa, guardamos brinquedos, roupas velhas e papeis de presente amassados pensando que um dia possamos precisar do que não jogamos fora. Mas a verdade é que nem tudo precisa ser mantido. Dificilmente olhamos para nossas coisas velhas e, quando o fazemos, um zilhão de recordações são lançadas em nossa memória. E o coração nem sempre aguenta esse tipo de coisa. Aperta, sufoca, chora. Não é que lembranças sejam ruins, muito pelo contrário. Às vezes é bom olhar para o passado, bater no peito com orgulho e dizer "superei". O problema é que, se não superamos, se não esquecemos, olhar para trás é como levar um tiro certeiro no terceiro botão da camisa. Nos remete a sentimentos que ansiamos em apagar e nunca conseguimos. Porque sentimentos não são como o rascunho de um texto mal escrito, feito à lápis. São  talhados a ferro em brasa no coração de quem, por deslize, se deixou amar sem ser amado. 
Eu espero que um dia consigamos arrumar todas as nossas gavetas. As de dentro e as de fora. Rasgar os bilhetes manchados por lágrimas, deletar os históricos, remover os escombros, colocar os pés no chão, esquecer o passado e olhar para o futuro. Pois com espaços tão preenchidos, aonde vamos colocar tudo o que está por vir?

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